domingo, 28 de junho de 2009

Um Peter Pan Diferente



Peter Pan, clássico consagrado da Walt Disney, conta a história de um garoto corajoso, mas que se recusava a virar adulto. Por isso, vivia em outra dimensão, na Terra do Nunca, um lugar mágico onde só havia espaço para as brincadeiras, inocência e sonhos. A vida de Peter, o eterno menino, tinha uma dose diária de aventura, com obstáculos constantes, sempre impostos por seu arquiinimigo, o capitão-gancho. Apesar de batalhas ferozes e arriscadas, tudo, no fim, sempre tinha um desfecho feliz: Peter vencia, salvava seus amigos e voltava à sua Terra, aquela, a do Nunca, onde nunca, jamais, uma criança seria outra coisa senão apenas criança; longe de trabalho ou maus-tratos, físicos ou psicológicos. Uma linda história, sem dúvida, um clássico sem igual, mas que só existe no imaginário, nas fitas antigas ou nos DVDs que resgatam a lenda. Michael Jackson, menino que também não queria crescer, sabia bem disso...

Michael Joe Jackson nasceu em 29 de agosto de 1958, em Gary, no estado de Indiana (EUA). Tinha nove irmãos, mas foi com quatro que, aos 5 anos de idade, compôs o Jackson Five; Jackie, Tito, Marlon e Randy, se lançando ao estrelato. Seu pai, Joseph Jackson, responsável pela formação, havia participado de grupos musicais desconhecidos no passado. O Jackson Five, que depois se tornaria Os Jacksons, estourou com a música "My Girl", tornando-se um fenômeno em pouquíssimo tempo.

Apesar do talento dos irmãos, Michael estava em maior evidência. Sua voz, presença de palco e carisma haviam conquistado a todos. Quase todos. Seu pai, talvez no âmago de sua frustração com o passado, lhe agredia física e psicologicamente. "Ele partia para cima da gente. Ficávamos muito nervosos nos ensaios porque ele ficava sentado numa cadeira, com o cinto na mão, e se alguma coisa não saia direito ele vinha para cima, sem dó", disse em entrevista à Oprah.

Em 1978, após 13 anos com seus irmãos, o inevitável finalmente acontece: Michael sai em carreira solo. Seu primeiro CD, "Of The Wall”, misturava dance, rock, baladas românticas e funk. O sucesso foi grande, mas foi em 1992, com "Thriller", que o ápice de sua criatividade e a consolidação de sua carreira acontece. O carro-chefe do CD, de mesmo nome, vem embalado por um clipe inovador e de custos "colossais". O resultado não poderia ser outro: Thriller é o CD de maior vendagem de todos os tempos; foram 80 milhões de cópias no mundo.

Após o grande sucesso, veio "Victory", último CD com os irmãos Jacksons, e que triunfou com a música "We Are The World"; gravada em parceria com diversos artistas em prol do povo africano.

Sucesso conquistado, Michael resolve aflorar o "Peter" dentro de si, comprando um rancho na Califórnia com parque de diversões e um minizoológico. Para ele, o nome mais apropriado: Neverland, A Terra do Nunca. Em meio ao resgate da infância, surgem os questionamentos sobre cirurgias plásticas e mudanças na cor de sua pele; este último, atribuído pelo cantor ao vitiligo.

"Quem é mal?", diz Michael na faixa-título do CD "Bad", lançado em 1987. Paradoxalmente, a mídia o fazia questionamentos semelhantes.

Nos anos seguintes, o lançamento de um novo CD, "Dangeours", e a acusação de abuso sexual a um menino de 13 anos, em seu rancho. Após um acordo financeiro com a família, o caso é arquivado. Em tese, dinheiro em troca da dor de um filho! Alguém, que realmente diz a verdade, o aceitaria?

A imagem do cantor, a partir disso, nunca mais foi a mesma. Lançou outros CDs, como "History" e "Invincible", em 2001; o último, considerado fraco e abafado pelas polêmicas. De fato, o casamento e divórcio relâmpagos, os filhos de maternidade duvidosa e os comportamentos excêntricos deram lugar as manchetes.

Em 2003, mais uma acusação de pedofilia e, coincidentemente (ou não), logo após a exibição de um documentário de repercussão negativa sobre o cantor. Começava, aí, o julgamento do "Reio do Pop". No Brasil, a própria Rede Globo criou um quadro especial sobre o assunto.

Finalmente em 2005, Michael Jackson é absolvido por unanimidade. Fim do pesadelo? Não! Os meios de comunicação, nacionais e internacionais, demonstraram claramente seu descontentamento com o veredicto, e a população, não imune a seus efeitos e com "pré-conceitos" parecidos, seguiu o mesmo caminho. Afinal, era óbvio que um "cara esquisitão", "branco-negro" seria também um pedófilo, correto? Até porque as aparências jamais enganam; é assim o ditado, não é mesmo?

Peter Pan, aquele do clássico da Disney, ficaria muito triste com o desfecho dessa história. Ele viveu com intensidade o "ser criança"; em beleza, prosa e poesia. Michael, um "Peter Pan Diferente", tentou fazer o mesmo, no tempo em que a vida possibilitou. Conseguiu, em partes, com a criação de dezenas de instituições voltadas às crianças, mas não em outras, essenciais. Sim, talvez ele fosse culpado de tudo. Talvez, inocente! O problema é que se esqueceram do "talvez". Agora, quem sabe, ele tenha encontrado a verdadeira Terra do Nunca; aquela, a do Desenho, mais justa e eterna!



Michael Jackson - "Ben" (legendas em português)

Para mim, Michael sempre demonstrou excentricidade, mas também essa doçura, bondade e meiguice. Um "Rei" sim, mas com humildade e que, creio eu, seria incapaz de fazer certas maldades. Ele deu shows de diversos tipos em sua vida, mas o maior deles estava na genialidade e presença de sua música.

Morre o ser humano, nasce o ícone Michael Jackson!