quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A Trilogia da Felicidade

Plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro!

A sabedoria popular tem seu valor. Não acho que esses "objetivos-clichês" sejam unânimes, muito menos garantia de felicidade eterna. Mas para mim, que creio na alegria a partir das coisas simples da vida, são românticos e valem muito a pena.

Fico feliz que tenha realizado ao menos um deles... :)

Compartilho com vocês a crônica "Cidade do Interior tem dessas Coisas". Ela faz parte do livro "Um Olhar Sobre Indaiatuba II"*, uma coleção de crônicas da cidade de Indaiatuba. É singelo e ainda não é o livro completo que ainda hei de escrever, mas já me deixou bem orgulhoso.

Espero que gostem ;):


CIDADE DO INTERIOR TEM DESSAS COISAS


A fofoca corre solta, os fatos são compartilhados, as opções são limitadas! Cresci numa cidade do interior, Indaiatuba, e sempre pensei dessa forma. Até ontem, quando encontrei...

... um amigo no Parque Ecológico! Rafael é um amigo de longa data. Crescemos juntos, estudamos no Fundamental, separamos no Médio. Garoto intrépido, sagaz, um tanto maluco também. Vê-lo era como rever meu passado de tantas travessuras e leviandades. Éramos, de fato, o retrato nítido da obra de Ziraldo: meninos totalmente maluquinhos. Não mais, aliás, agora éramos homens, com barba e tudo, mas eternas crianças na alma.

Abraçamo-nos forte! Senti seu carinho, seu calor, sua amizade! Apesar do tempo passado, ainda sentia que a essência da nossa amizade era a mesma: compartilhávamos tudo, literalmente. O Rafa havia ido para a cidade grande, uma capital. Tirou a sorte grande, aliás. Com toda certeza, sua vida havia se tornado mais sublime, arriscada, desafiada. Pelo menos era o que eu pensava...

Naquele dia eu estava péssimo! De fato, perturbado, cansado ou, para ser mais explícito ainda, cansado de Indaiatuba. Fui logo desabafando:

"Tudo está na mesma! Estagnado, sem emoção. As pessoas continuam cuidando uma da vida das outras. Sabe como é o interior, né?".

Foi quando, para minha surpresa, ele discordou. Descreveu-me tudo o que passara na cidade grande, o quanto a vida era estressante, o trânsito tumultuado, seus vizinhos igualmente fofoqueiros e a falta que Indaiatuba fizera nesse tempo todo. Pensei: "mas como?". Foi quando ele me deu uma verdadeira lição:

"Cara, às vezes temos tudo o que precisamos perto da gente e não damos o devido valor! Minha história está nesta cidade, minhas referências estão em cada esquina, viela, avenida, alameda".

Suas palavras tiveram o efeito de um colírio e desembaraçaram meu olhos: "Como pude ser tão ingrato com Indaiatuba?". No mesmo momento, lembrei-me de nossa infância juntos, das travessuras e leviandades, tudo tão intimamente ligado à nossa cidade.

Nossas famílias eram amigas e frequentavam juntas a missa, na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária. Sim, aquela linda igreja tão profundamente ligada às origens de Indaiatuba. Não gostávamos do sermão, mas adorávamos as brincadeiras que nasciam junto a outras crianças que, assim como nós, não tinham a menor paciência para aquilo tudo. Ao contrário, as ruas adjacentes à Igreja eram palco de verdadeiro pecado, zombaria e manifesto dos mais cabeludos palavrões. Todos proferidos com a mais inocente das intenções, claro. Às vezes fazíamos amigos por lá mesmo e ao entardecer abusávamos de nossa persuasão angelical, insistindo para que nossos pais nos levassem ao shopping, à Praça da Liberdade, ao mesmo Parque Ecológico que agora eu reencontrava o Rafa. A escolha do local dependia muito do humor da molecada. No caso da minha, do Rafa e de nossos companheiros de farra. Era doce a infância em Indaiá...

... e só pude notar isso agora! Aliás, não só a infância era doce, a adolescência e suas descobertas tiveram seu ápice por aqui, e a fase adulta vem se mostrando iluminada. Sabemos, Indaiatuba vem crescendo de forma acelerada, com uma oferta de oportunidades incrível. Então, por que eu não percebia tudo isso?

Deslumbramento, puro deslumbramento! Nas viagens conhecemos os lugares e nos encantamos com eles, mas percebemos apenas pequenos fragmentos dos costumes, prós e contras do local, pois nada substitui uma experiência prolongada. Também temos a tendência em valorizar tudo o que não nos pertence ou não faz parte de nossa cultura, enquanto vangloriamos as questões externas. Precisamos aprender a sentir o que há de bom ao nosso redor...

... e Indaiatuba é repleta de belezas e predicados positivos! As praças são preservadas, as ruas são limpas e em sua maioria asfaltadas, o clima é agradável, o Parque Ecológico um convite à vida saudável e o Bosque do Saber ao aprendizado. Quando falamos em crescimento, Indaiatuba também não fica atrás: nosso parque industrial cresce a cada dia, nossa taxa de desemprego é pequena, nossa localização com relação a Campinas e São Paulo nos privilegia.

Esta é a minha Indaiatuba: "A CIDADE DO SOL"! Um sol forte e vibrante, capaz de preencher tristezas e encher o coração de cada indaiatubano de inspiração, pois, apesar do crescimento frenético da cidade, ainda preservamos hábitos simples e importantes. Que vão desde sentar em frente ao portão para um papo descontraído com o vizinho, até levar os filhos à praça sem medo da violência. É... esta é a Indaiatuba que meus olhos turvos não viam...

... uma cidade que não é perfeita, AINDA!

* "Um Olhar Sobre Indaiatuba II" foi publicado em 2008 pela Fundação Pró-Memória de Indaiatuba.

Um comentário:

Patricia disse...

Putz...Tenho sofrido disso
Passei no vestibular e agora moro no RJ

Minha cidade é Hortolândia interior de SP, tem horas que qualquer coisa me lembra...suas ruas, suas casas, as pessoas, as lojas, o clima...
TUDo

dá muita vontade de voltar